Fiquei afastado dos treinos e do blog por 3 meses por conta da campanha. Nesse tempo, ganhei 6 quilos e pude confirmar o quanto me faz falta o correr, nadar e pedalar.
O retorno é sempre difícil. Readaptar o corpo e a mente, reprogramar os horários de treino, enfrentar o desafio psicológico de encarar a queda de rendimento, tudo parece sacrifício. Mas que um retorno, é um recomeço. E recomeçar não é tarefa das mais fáceis.
Imagine você tendo que percorrer um longo caminho, de repente, por algum motivo você precisa parar e, ao recomeçar percebe que está alguns quilômetros atrás do ponto aonde parou. É essa a sensação. Agravada pelo fato de que, nesse caso, o destino não é um lugar físico, é um estado de espírito, é um desejo insaciável de superar limites. É grande a tentação de desistir. Como retomar uma caminhada para o desconhecido?
Impossível responder essa pergunta sem experimentar o recomeço. É como tentar explicar, para quem nunca correu, o prazer de correr uma maratona, com a dureza e os sacrifícios que uma prova de 42km exige. É simplesmente inexplicável pra quem fala e incompreensível para quem ouve. Só conhece o prazer do recomeço quem recomeça, como só sabe o prazer de cruzar a linha de chegada de uma maratona quem completa uma maratona.
Quero dizer que você que desistiu ou que ainda não assumiu o desafio de recomeçar, nunca saberá o quanto o recomeço faz bem ao corpo e a alma.
Claro que não é uma tarefa fácil! Fácil é desistir! Mas, eu garanto para você! É muito menos difícil que a decisão que você tomou lá atrás. A decisão de dar o primeiro passo nesse caminho desconhecido e cheio de encantos que é a corrida.
Foi durante esse recomeçar na corrida e no triathlon que ouvi uma palestra do meu amigo Tenório Telles sobre o livro e a leitura. Tenório falava com paixão sobre como o livro e o amor pela leitura mudara o destino de um jovem pobre chamado Machado de Assis. Os olhos dos jovens estudantes que o escutavam brilhavam e seus corpos se deliciavam com o entusiasmo do palestrante. E eu ali. Assistindo a tudo. Emocionado. Quase as lágrimas.
É nessas horas que me sinto vivo, que me sinto gente. E enquanto eu puder chorar com a força da palavra, com a melodia de uma música, com a beleza de um quadro, com o declamar de uma poesia ou com um cruzar a linha de chegada ou mesmo com o simples prazer de durante uma corrida abrir os braços e agradecer a Deus é porque ainda estou vivo.
Mas preciso contextualizar essa história. O que ela tem a ver com um texto que fala de corrida e de recomeço?
É que, enquanto o Tenório falava, eu imaginava quantos livros aqueles jovens já tinham lido? – fora aqueles obrigatórios da escola e que virou moda ler só o resumo – que livros eles estavam lendo? Tomou o meu pensamento, com toda força, uma frase muito ouvida nas escolas hoje em dia: eu odeio ler!
Lembrei de todos que “odeiam ler”. Porque os que odeiam ler, encaram a leitura como uma perda de tempo, como coisa de tolo que não tem o que fazer. E era assim que eu encarava a corrida. Até um dia que aprendi a amar a corrida. E quando aprendi a amar a corrida ela passou a ser parte da minha vida. E quando ela passou a fazer parte da minha vida, tudo se inverteu. O difícil que era recomeçar virou fácil e o fácil que era desistir virou difícil, talvez o melhor termo seja: impossível.
Ninguém ama o que não conhece. Para amar a corrida é preciso correr. Assim como para amar a leitura é preciso ler.
Mas você pode insistir que as vezes é muito difícil. E é. Mas, no começo, ou no recomeço, corra um dia, corra dois dias, corra três dias, corra uma semana, corra um mês, corra no dia que você menos quiser correr e, sem que você perceba a corrida tornar-se-á um hábito prazeroso na sua vida.
É assim que vou recomeçando. Voltando aos treinos, respeitando e desafiando os meus limites, estabelecendo novos objetivos e dividindo essa experiência.