Na vida e na corrida aprendemos com o acúmulo de novas experiências. O tempo também vai nos mostrando que ele (tempo), quando encontra uma alma humilde, pode ser um grande professor.
Estamos em fevereiro de 2015 e eu estou com a minha família de férias passando por Orlando e Nova Iorque.
Houve um tempo em que o meu preconceito ideológico não me permitia enxergar a grandeza do que a humanidade convencionou chamar LIBERDADE e que não é possível construir um mundo justo, fraterno e solidário sob bases autoritárias.
É disso quero falar de HUMILDADE e de LIBERDADE, na corrida e na vida.
O passar do tempo sempre traz a velhice e os cabelos brancos, mas só traz a sabedoria para os de alma humilde. O passar do tempo, quando acompanhado de arrogância, só produz amargura e preconceito. É preciso ser humildade para tirar as lições que a vida nos dá.
Assim é na corrida. É preciso reconhecer os seus limites e respeitar as adversidades e os terrenos desconhecidos para enfrentar novos desafios.
Sai pra correr num frio de menos 4 graus pelas ruas de Nova Iorque. Era correr pelo desconhecido. Já nós primeiros passos, desisti do treino de 10km e transformei numa corrida de reconhecimento. 5km com paradas pra fotos com bonecos de neve e nas belas praças cobertas de neve.
Com a devida prudência percebi que era possível fazer uma treino mais longo e planejei um que está no imaginário de muitos corredores. Correr no Central Park.
Pelo menos para nós amadores a corrida de longa distância é um gesto libertário. Não corremos só pela corrida. Corremos pela beleza da paisagem que nos acompanha e da diversidade de rostos e corpos ao nosso redor.
Não há prazer na corrida sem liberdade.
É inimaginável alguém passar a vida inteira correndo e treinando para uma maratona (42km) na mesma pista de atletismo de 400m, vendo sempre a mesma paisagem e as mesmas pessoas. Isso seria enlouquecedor.
Seguro de que era possível suportar o frio e com a sorte de uma manhã com 3 graus parti para uma longa corrida de desbravamento. 10km, sem percurso pré-determinando, salvo o desejo de correr a toa pelo Central Park coberto de neve.
Correr no Central Park coberto de neve é como correr dentro de um freezer, com a diferença da paisagem deslumbrante, dos rostos de corredores e corredoras anônimos pra mim, dos idosos passeando com os seus cachorros, das crianças brincando com seus cachorros na neve, dos esquilos perambulando e, acima de tudo, da liberdade de simplesmente correr.
Planejados 10km, corri 15km aproveitando que me perdi no parque deslumbrado pela beleza do lugar e encantado pela experiência.
A Humildade me fez reconhecer os meus limites e fazer uma corrida curta, mas criou as condições para o desfrute da liberdade de uma corrida longa.
Na vida e na corrida, o homem precisa ser humildade para aprender com o tempo e livre para evoluir com as novas experiências.